terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Noite Fria de Verão

Andou apressadamente até o parapeito da cobertura, e lá encostou seus ombros. Pôs as mãos no rosto e começou a segurar o choro. O vento frio ficava forte, e anunciava chuva. Uma música tocava em algum carro no quarteirão, e era possível ouvir vozes felizes vindas da rua. Observava as vista. As luzes das casas e dos postes ficam mais vivas e bonitas quando os olhos estão úmidos. Suspirou fundo e procurou esvaziar a mente. Seus sentidos se aguçaram e podia sentir seu corpo se acalmando. Podia ouvir o som das vozes de seus pais vindo da casa abaixo. Suspirou mais uma vez e pensou que precisava de alguém, mas quem? As pessoas que conhecia naquela cidade não teriam tempo para ouvir seus problemas. Era sexta-feira e todos estavam preocupados em se divertir. Ele também queria se divertir, sentia uma grande necessidade de sair para beber e se dar risada como sempre fizera, mas não se sentia à vontade para fazer isso. Pensou em alguns amigos, mas nenhum deles moravam ali. Para uns não havia créditos no celular para fazer ligações, outros ele sabia que não o atenderia, outros não o entenderiam...ficou frustrado. Precisava sair, conversar, chorar um pouco, confessar seus medos, seus segredos, suas mágoas, mas não havia como isso acontecer.

O vento ficou mais forte, e seus sentidos também. As vozes, a música, os risos, as luzes, o vento, as nuvens, estavam sufocantes! Algo como repreensivo. A mágoa colocou a mão em seus ombros e lhe disse ao ouvido: “veja como está só, desgraçado!” As lágrimas tornaram a querer sair.

Mais um suspiro forte, e a sanidade o recompôs: “Você está aonde você se colocou”, “Você é fruto de suas próprias atitudes”. Onde foi que ouvira aquelas frases? Isso não vinha ao caso, o importante é que se trata de verdades. Estava se deixando levar por uma maré de ódio e tristezas. Acontecimentos marcantes e horríveis o perseguiam, e ele não sabia como se portar diante de tudo isso. Até aquele momento era uma criança, preocupada com seus sonhos e vaidades. E agora, diante de uma situação crítica, dentro de um labirinto, não sabia para onde ir, nem o que fazer. Estava só.

Estava só em seus sentimentos, estava só naquele local, estava só naquele labirinto. Começara a perceber que a vida não é como nos filmes, ela não vai melhorar quando você acordar num dia ensolarado. Ninguém irá lhe ligar ou enviar mensagens só por que você acabou de sair do banheiro com a cara inchada de tanto chorar, e não existe um desconhecido especial que se interesse em lhe ouvir numa mesa de bar. Não virá um herói e lhe salvará no momento em que tudo depender de você mesmo, e as coisas não vão se ajustar milagrosamente quando você gritar “já chega!”. A vida não é fácil. A vitória não é fácil. Há de se lutar muito, de se envelhecer e amadurecer muito até se atingir o entendimento maior sobre as coisas.

Decidiu descer e tomar banho. Largaria todo aquele cenário de filme brasileiro, e voltaria à sua realidade, às luzes amareladas de sua casa, à água quente de seu chuveiro, e à morbidez de seu quarto. Precisava refletir, pois havia muito a se aprender, em questão de compaixão e aceitação. Uma coisa de cada vez – foi o que seu pai lhe falara mais cedo, naquele dia. Primeiro pensaria sobre isso (compaixão e doação), depois, se sobrasse tempo, pensaria em sua vida.

2 comentários:

  1. Genesis, adorei seu trabalho ! Acho que muitos já passaram por essa noite fria de verão e vc descreveu exatamente o que eu, por exemplo,já passei. Parabéns !Continue escrevendo, que é o que você ama, e nos deixando orgulhosos como leitores.

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  2. Já pensei muito em minha vida. Continuo pensando e pensando. Pensar ajuda e pensar a compaixão e doação,quase sempre é impossível, mas não desisto. Estou contigo nessa... Ótimo texto, já que não sou muito chegado à existência! Você vai me deixar logadão! Rsrsrsrsr....

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